terça-feira, 27 de setembro de 2016

Inconstante


Cá estou, um farrapo na trincheira, um pano-de-chão, um cacareco, um fim-de-feira, a total desordem no caos de um coração quebrantado. Mesmo assim, carrego na face o sorriso de quem tem hoje o melhor de ontem, vestida de sol e calçando alpercatas de asas velozes de passarinhos madrugadores, limpa e fresca como água de nascente, transcendental, com meu sorriso de lua nova.
É muito tosco o mundo das aparências ao qual me apego, sinto trair-me em frente ao espelho com essa cara-de-tudo-bem. Alienada estou, dando satisfação à sociedade que exige de mim a felicidade instantânea do comercial de margarina, com uma família perfeita que sequer imagina o mal que faz a margarina.
Então tudo corre para a total contradição: não consigo menosprezar o embate íntimo que se manifesta no campo das minhas ideias e o impeço de figurar-se em meus trejeitos. Eu o nego porque é mais fácil ser admirada do que receber olhares de preocupação e cartões de analistas (nada contra os analistas).
Mas tudo tem um preço - uma azia, uma dor nas costas e minha insônia (fiel companheira, açoite aos meus versos secretos a alguma musa inatingível).
Mas, pensando bem, até que vale a pena ser como sou, ficar quietinha sem incomodar ninguém, inspirar-me nesses devaneios, chorar e rir minhas angústias e carmas. Afinal, quem se importaria mesmo? Acho que estou dramatizando demais...
Sou tão eu!
Sou tão...
Tão...
Tão... Eu mesma?
Essa sou eu?
Quem sou eu?
Ai, meu Deus! Onde foi que eu joguei o cartão do analista?

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