quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Prissila com "ss" - uma nota impublicada

Nascida a 1º de Março de 1984 (um ano bissexto que quase lhe presenteia com um dado pitoresco), Prissila é uma pessoa "peculiar". Prima de seus pais, tem como apelido um nome próprio e vive a vaguear em trânsito e em transe, migrando feito borboleta monarca em direção ao seu amor, "bicicletando" por aí, distraída com capivaras preguiçosas, flores silvestres, paisagens, cheiro de chuva e pedras redondas que brotam do chão. 
Apaixonada por gatos e certos bichos penados, Prissila mantêm sob a dobra das pálpebras um bucolismo e melancolia patológicos no que se diz respeito a tornar-se inerte perante a magnitude da natureza, na contemplação paralisante que a faz transcender e sentir-se parte fundamental do imenso Universo - a força que tudo cria e destrói. 
Sem religião ou dogmas, encontra seus refúgios espirituais em qualquer altitude, debaixo de um céu estrelado, dourando num pôr-do-sol, debaixo de chuva, ouvindo a canção do vento, em contato com a água do rio, com o barro do chão e a relva orvalhada, conectada a árvores, cactos, calangos, passarinhos, formigas e borboletas. 
Fortemente ligada à natureza do seu "eu" e do mundo, sua miudeza se expande em noite de lua cheia quando ela faz fotossíntese noturna iluminada por sua eterna musa -  "la bela luna" - a qual acompanha desde a infância,hipnotizada pela sua dança etérea.
Ama a paz dos cemitérios e o milagre dos berçários. Vive em trégua com a morte e pactua firmemente com a vida que brota dos bulbos do seu cabelo e sob sua pele escamada de mutante.
 Filha da água, nativa de peixes, é romântica e demasiadamente sensível, trágica, cômica e passional. Carrega uma gama de sentimentos implícitos em algum canto obscuro da psique, o qual se revela apenas ao que impactá-la ou a quem for capaz (ou doido) de despertar seus instintos inconscientes, em algum momento propício. 
Não alimenta ambições ou projetos práticos (o que lhe atormenta às vezes)mas é dotada de muita esperança. Adapta-se a pessoas e lugares bem como é propensa a isolar-se antissocialmente pelo único bem de seu equilíbrio emocional e harmonia interior.
Prissila gosta de ficar sozinha apenas se estiver consigo mesma, pois, dessa maneira sente-se muito bem acompanhada. Julga-se a mais solitária e miserável dos seres viventes quando está entre pessoas com as quais não consegue interagir ou não pode se expressar genuinamente.
 Prissila sabe que a natureza das coisas não depende da sua vontade, não pode ser de outra forma só porque ela deseja muito que seja ou não seja. Assim, aprendeu a não se iludir e até a desconfiar. Nessa premissa, anseia para que essa bagagem não quebre os elos íntimos e valiosos que construiu e não a prive das relações altruístas que estejam a ela destinadas. 
Aqueles que estiverem guardados no baú do tesouro do seu coração jamais serão esquecidos e, mesmo distantes, a eles será dedicado o amor possível e imaginável que, pela mágica e invisível rede da amizade, os alcançará e os manterá conectados de alguma maneira.
Consegue captar amores e humores, compreende a liquidez dos sentimentos cotidianos e reconhece, tristemente, a perenidade devastadora das suas consequências.
Pode, às vezes, transparecer, duramente, um coração fechado e frio.  Porém, reconhece-se como um-todo-coração-quebrado-em-mil-pedaços, remendado e colado, refeito com dor e alegria pelos intemperes e bálsamos do tempo, como um quebra-cabeças de um cenário fascinante que nunca termina.
No que se diz humano, pouco lhe surpreende - do mel ao fel, do inferno ao paraíso. Acredita que cada um carrega em si essa dualidade (inclusive ela mesma). Seu maior temor é se deixar transformar em seu próprio carrasco, o qual age guiando sua vida pelo pântano sombrio do limbo existencial, privada de qualquer propósito que dê sentido e significado à sua vida.
E a cada conquista ou derrota, Prissila adquire mais um item para sua coleção de predicados e adjetivos inusitados, buscando preencher-se cada vez mais de si para assim ser capaz de acolher o próximo, valorizando o que a faça múltipla dentro da sua singularidade.

terça-feira, 15 de agosto de 2017

Chapeuzinho Vermelho


Chapeuzinho Vermelho vaga pela floresta,
Ela não tem medo do Lobo Mau,
Na verdade, ela o busca.
Saiu de casa sabendo do perigo,
Saiu sabendo onde poderia encontrá-lo
E foi pra lá, para seu habitat.
Chapeuzinho Vermelho vai ao encontro do Lobo
Levando consigo uma cesta de doces
E uma mente cheia de anseios,
Querendo viver aventuras.
Não há vilão ou vítima nessa história,
Apenas dois seres se atraindo,
Como se houvesse magnetismo entre eles.
Tendo o Lobo a sua natureza, como ele poderia negar os seus instintos?
Sendo a menina tão imatura, quem poderia julgar sua curiosidade?
É mais uma questão de lógica que de fatalidade. 
E não adianta rebuscar os miolos de pão para voltar pra casa - falamos de Chapeuzinho - João e Maria são outros quinhentos... 
Não é necessário um herói para defender sua vida, sua honra. Chapeuzinho luta com suas próprias armas e compreende bem que render-se é a sua maior vitória.
E já está tudo escrito, não adianta fugir. Perdida na densa floresta, no breu dos sentimentos conflitantes, Chapeuzinho Vermelho acaba de se encontrar.



Raposo e Mariposa

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Raposo não gosta de aros, pois, lembram-lhe elos, correntes... Que lembram prisões.
Mariposa não gosta de papéis, pois, lembram-lhe averbações, contratos... Lembram-lhe também um golpe certeiro de um jornal enrolado que a deixou um pouco mais culta, porém, tonta.
Raposo e mariposa, apesar de muito diferentes, são companheiros inseparáveis - eles se complementam.
Raposo é pé-no-chão, sabe de trilhas e tocas... Mariposa é voadora e avoada, gosta de lua e estrelas...

Ambos conhecem um pouco de muito, um tanto suficiente, embora desejem saber sempre mais, cada um à sua maneira. Porém, apreciam mais o que não sabem, os mundos distantes e particulares, aquilo que descobrem aos tropeços e encantamentos, dia-a-dia, por trás das retinas dos seus amados - Raposo e Mariposa.