Difícil é prever as surpresas que a vida pode nos proporcionar. Se num instante tudo é calmaria, num simples encontro de olhares o fulminar de uma paixão pode tomar conta de toda a extensão do corpo, figurando na mente o doce sabor do encantamento, a beleza do paraíso num sorriso espontâneo e num terno e delicado toque.
Como coibir a paixão?
Como fugir à teia à qual se emaranha por prazer?
Como negar a vida pulsando em si, querendo viver?
Como julgar algo tão despretensioso?
Como se esconder dos olhos-faróis que nos guiam ao mel ou ao fel, ao céu ou ao inferno, à salvação ou à perdição?
Livre, não se mede ,não se pensa, e, o convite ao mergulho no mistério abissal é irrecusável. Não-livre, o dilema entre arriscar-se ao mar bravio e recolher-se na segurança de um porto seguro é a via crucis do apaixonado.
O que fazer?
Para onde ir?
Se o desejo arde à pele e entorpece os sentidos fazendo se perder o juízo e sufocar um grito de êxtase na garganta?
Como se entregar sem deixar de ser inteiro em outra relação?
Como conviver com o temor de ver desfacelar o castelo construido com flores e pedras ao qual se fazia abrigo nos dias de solidão?
Ao desenrolar da história ninguém sai intacto, não há quem não saia ferido como pássaro apedrejado, agonizando na dor de se machucar e machucar a quem se ama pelo impulso inocente a uma travessura do acaso. Mas, se é por acaso que as coisas acontecem, não é por acaso que elas permanecem.
Nunca se está preparado e imune à paixão, cada um é um ser único que se apega, se encanta e também se decepciona. Fazer dessas histórias inspiração para versos é arte, sobreviver a tudo isso é força, saber tirar o melhor dessa ambiguidade é otimismo, não se deixar envenenar por mágoas é sabedoria, perdoar é nobreza, aprender com a vivência é evolução e, continuar amando é a nossa sentença.