“Todas as pessoas grandes foram um
dia crianças, mas poucos se lembram disso”.
(Antoine de Saint-Exupéry)
A música é ferramenta
milagrosa pra quem tem imaginação... Versos são capazes de mover as engrenagens
da memória e nos transportar no tempo, sentindo a alegria de reviver emoções
que ficaram lá pra trás, quando éramos apenas meninos e meninas, com um mundo
inteiro a desvendar.
Além das lembranças, a
melodia nos traz a maravilha de se sentir leve, como semente de ipê dançando ao
vento, respirando com a máxima capacidade e se enchendo daquele cheiro bom que
ficou lá no passado. Incrível, não é? Você já se sentiu assim? Pois é, a música
é mágica, ela mexe com nossos sentidos. Ela é máquina do tempo e faz com que
reencontremos a nós mesmos.
Estive, ano passado, no
Festival Edésio Santos, no Centro de Cultura João Gilberto. Na ocasião conheci
a música “Quintal”, de Moesio Belfort, Carlos Hyury e Eneida Trindade. Ao
ouvir a música senti, a cada verso, a minha meninice descrita em
detalhes tão íntimos pra mim que foi como se os autores da canção fossem
aqueles meus companheiros de infância, cúmplices das minhas brincadeiras,
traquinagens, segredos e temores pueris.
Quanto vale uma sensação
dessas? Será que há como quantificar um valor para algo tão precioso? Não! Só a
gratidão é que paga, só o reconhecimento é que pode exprimir a felicidade de se
sentir representado de forma tão pura e verdadeira.
Nesses tempos em que há o
crescimento de uma produção musical que degrada a imagem humana e em que nossas
crianças estão cada vez mais presas à tecnologia, rodeadas de muros e cercas
elétricas, trazer à tona a magnitude da liberdade de ser infante com toda
essência (com seu mundo imaginário e seus brinquedos de pano, de lata e de
papel) é algo de muita sensibilidade e esperança. Pois, traz à tona a nossa
criança interior e, nos sequestra um pouco desse mundo que tende a encher-se de
vazios existenciais na prática rotineira de ser adulto querendo “ganhar a vida”
enquanto se perde, a cada dia, mais uma fração da existência.