quarta-feira, 28 de setembro de 2016

O início


Amo seu jeito de chegar sem avisar, de enxugar os cabelos e contrair a musculatura peitoral quando me abraça. 
Gosto da sua rebeldia diplomática, seu peculiar gosto musical, sua polêmica e sua mania de mudar o corte de cabelo sempre que eu me acostumo com sua imagem.
Adoro quando seu sorriso persegue o meu e nossas mãos dizem boa noite como numa linguagem de sinais própria.
Nosso abraço é resultado de magnetismo energético, nosso toque provoca abalos sísmicos no coração.

Somos de épocas diferentes, viemos de meios diferentes, de realidades opostas mas, bendigo todas as coisas que nos são contrárias, pois elas nos complementam.
Nossa anatomia se encaixa em curvas perigosas, nossas ideias bailam juntas no palco da vida, embaladas por uma canção melosa de Elvis.
Não somos metade - somos inteiros num só espaço.
Você é o sonho que nunca dormi, você é o meu despertar.
Amo você.

Felina


Quando chego, ela não quer saber de onde venho, nem o que trago, nem o que sinto - ela não se comove, não sofre nem fica desesperada ou eufórica - ela simplesmente vem até mim, serena e calma, me envolvendo em sua paz.
Ela não me cobra nada. Tem suas necessidades que não vão além daquilo que posso lhe oferecer.
Ela sente prazer em estar comigo e demonstra, à sua maneira, sutil e delicada.
Ela não faz planos nem vive de sonhos, não tem frescuras, porém, muitas manias (adoráveis!).
Ela não quer me mudar mesmo havendo tantos defeitos em mim, me aceita e não me julga.
Ela sabe quando preciso de atenção ou preciso apenas ficar sozinha (mesmo assim não me deixa e me envolve com sua presença sem imposição ou queixa).
Eu sei que ela me ama e eu amo com o sentimento mais puro e belo que já experimentei, por isso, espanta-me esse amor que é maior que qualquer um que eu possa declarar, que é melhor porque me faz melhor (eu a amo incondicionalmente!).
Sei que sofrerei se ela partir e sentirei a ausência que deixará um vazio cruel em meu coração (é o risco que se corre quando se ama).
Enquanto posso, nutro-me desse elixir de paz e felicidade, e agradeço aos céus por esse presente que já é pra mim uma razão para estar nesse mundo e não pensar em partir.
E ao chegar o crucial momento no qual a despedida for inevitável, sua lembrança será o meu refúgio e viverei eternamente embalada por um sonho lindo do qual tive o privilégio de viver com toda intensidade.


terça-feira, 27 de setembro de 2016

Sobre olhos e olhares (Estava tão claro, tão óbvio que não se podia enxergar)



Olhos e olhares dizem muito e a forma que enxergam dizem mais. O fascínio que os olhos e esses olhares me trazem, certa feita, me permitiu fazer essa simples analogia:
Desconfiados são "míopes": precisam sempre olhar mais perto e olhar denovo, denovo...
Indecisos são "estrábicos": não conseguem focar numa coisa só e tem mais de um ponto de vista sobre tudo.
Enganados são "cegos": por mais que a realidade se mostre bem à frente de seus olhos e tudo esteja claro e óbvio, jamais poderá enxergá-la como ela verdadeiramente é.
Diferente da questão biológica, quando se trata de relacionamentos e convivência, um dia tudo pode mudar, num simples instante, sem que haja alguma intervenção cirúrgica.

Quisera um "míope" livrar-se da dúvida apenas se permitindo deixar de questionar menos as coisas e passar a refletir sem estresse; quisera um "estrábico" poder direcionar o seu olhar, manter o foco, apenas com uma terapia psicológica; quisera um "cego" enxergar o que passa ao seu redor apenas porque alguém lhe diz que ele deve ser menos ingênuo e ilusório.
Pois é, para mudar a questão biológica cabem tratamentos médicos e muitas vezes, dependendo do grau de comprometimento ocular, há solução instantânea. Porém, para as pessoas, como citei, mudar de patamar nessa analogia pode levar uma vida inteira e, às vezes, é apenas no leito de morte que tudo vem a se resolver.
Então, no momento em que, por um relance de lucidez o "míope" deixa de duvidar, o "estrábico" fica centrado e o "cego" perde sua ilusão, aí, camarada, é quando se faz a revolução. Para o bem ou para o mal, é o momento em que o sujeito pode ir do topo do mundo ao abismo, do clímax à náusea. O choque dessa transformação pode fazer com que caiam governos ou nasçam mártires, pode iniciar guerras ou levantar bandeira branca, pode ocasionar o rompimento de laços ou fortalecer as relações, podem acontecer homicídios ou, até mesmo... Suicídios!
Do acender das luzes ao rolar das cortinas na escuridão final, tudo pode acontecer.

Inconstante


Cá estou, um farrapo na trincheira, um pano-de-chão, um cacareco, um fim-de-feira, a total desordem no caos de um coração quebrantado. Mesmo assim, carrego na face o sorriso de quem tem hoje o melhor de ontem, vestida de sol e calçando alpercatas de asas velozes de passarinhos madrugadores, limpa e fresca como água de nascente, transcendental, com meu sorriso de lua nova.
É muito tosco o mundo das aparências ao qual me apego, sinto trair-me em frente ao espelho com essa cara-de-tudo-bem. Alienada estou, dando satisfação à sociedade que exige de mim a felicidade instantânea do comercial de margarina, com uma família perfeita que sequer imagina o mal que faz a margarina.
Então tudo corre para a total contradição: não consigo menosprezar o embate íntimo que se manifesta no campo das minhas ideias e o impeço de figurar-se em meus trejeitos. Eu o nego porque é mais fácil ser admirada do que receber olhares de preocupação e cartões de analistas (nada contra os analistas).
Mas tudo tem um preço - uma azia, uma dor nas costas e minha insônia (fiel companheira, açoite aos meus versos secretos a alguma musa inatingível).
Mas, pensando bem, até que vale a pena ser como sou, ficar quietinha sem incomodar ninguém, inspirar-me nesses devaneios, chorar e rir minhas angústias e carmas. Afinal, quem se importaria mesmo? Acho que estou dramatizando demais...
Sou tão eu!
Sou tão...
Tão...
Tão... Eu mesma?
Essa sou eu?
Quem sou eu?
Ai, meu Deus! Onde foi que eu joguei o cartão do analista?