O quão extasiante é sentir você
Sem ao menos estar ao
seu lado
Sem ao menos tocá-lo
Sem ao menos vê-lo
Ou ouvi-lo
Estamos um no outro,
telepaticamente
Perambulo em suas
sinapses
E me sinto parte de
você
Da mesma maneira que
o acolho
No âmago do meu ser.
Internalizo você e me
vejo em duas partes
Somadas e unidas
Na simbiose das falas
Na osmose dos
pensamentos
Em tudo quanto
compartilhamos
E comungamos
Depois de um longo
jejum
Das almas famintas de
paz
Você extirpa minhas
dores
E exorciza meus
demônios
Suas palavras vão
além
Do que é expresso
Sintetizando todo o
pulsar
Da energia que emana
Pelo magnetismo
latente.
O medo que habita meu
íntimo
Desaparece como faísca
Feito fumaça de
incenso
E não mais me alcança
Tampouco insiste em
pesar
Sobre os meus ombros
cansados
O peso dos madeiros
cotidianos
Da existência que me
foi concedida
Algumas vezes, quase
indesejada
E mesmo que eu use
aqui todas as palavras
Todos os signos e
símbolos
Ainda seria insuficiente
Para narrar o
subjetivo
Descrever o
impalpável encontro
De desígnios
incógnitos
Numa breve aventura
noturna
Dos amantes anônimos
e castos
Felizmente satisfeitos
com a transcendência
Dos desejos além do
espaço-tempo
Os dizeres confundem
mais que explicam
E não serão
suficientes a quem quiser
Esmiuçar nossos
sentimentos
Somente nós saberemos
Do instante em que
não estamos juntos
Mas, unidos, como
numa só consciência
Que não está
disponível
A quem não está
contido no poema...