
Por um longo tempo se
fez lagarta
Sobrevivendo com auxílio da camuflagem
Escondendo-se dos
predadores que não podiam notá-la
E assim se fazia parte da verdura dos seus caminhos campestres
A mudança da estação lhe forçou a
metamorfosear seus medos
E criar asas para
voar longe
Tão longe quanto
pudesse querer
E se sentir plena,
inteira, dona de si
Muito vagou
entre flores
Viu seus espinhos,
mas, preferiu focar nas cores e aromas
Na doçura do néctar
Porém, um dia, a
ventania veio mais forte
E a baforada quente
de um vento de março
Desgastou e puiu suas
frágeis asas de monarca
E aquele sol dourado
que formava auréolas celestes em sua palma
A queimou como fez com a mata na estiagem.
Foi o tempo que a sentenciou
O tempo dos
contratempos
E ela foi, caindo...
Caindo... E assim ficou
Girando como semente membranosa de ipê
Perdida, sem saber
onde pousar.
O que era ameno era
apenas fantasia
Todo o afeto e candura das rosas foram pulverizados
Todo o afeto e candura das rosas foram pulverizados
Com a realidade que se
escondia
Entre orvalhos e
pedrinhas redondas
E agora se figurava à
sua frente
Como um buraco negro,
um abismo que lhe consumia.
E apesar da bonança e
alegria
Dos dias vividos à
sombra dos bouganvilles e umbuzeiros
O presente se mostrava como espinho que lhe trespassava o peito
Que manchava e minava
sua frágil esperança
No pôr-do-sol
alaranjado do amanhã.
Mas o inofensivo
inseto sabia
Que nem tudo estava terminado
Sentia a força
naquela delicadeza
Dos resquícios de
liberdade que surgiam da amnésia da dor
O infortúnio estava
acabando
Apenas cacos restavam
da lâmina faminta
Que rasgara-lhe a garganta por dentro
Apenas uma garoa sobrou do monstruoso temporal em suas
asas
Daquilo que ela
sempre quis ignorar.
Ferida, mas, leve
como pluma
Deixava-se levar novamente
na dança das folhas
Indo de qualquer lugar a lugar nenhum ou a um lugar-comum.
A esperança, mesmo
tímida, persistia
Apesar do sofrer
dilacerante
E não mais se sentia
só -
O amor ainda lhe
acompanhava.
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